João Pedro Vale +
Nuno Alexandre Ferreira
 
Skip Navigation Links.
 
 
  
  Rumor#09 (2013). Rumor Escrito, Duarte Santo, Azores., 2013
 

RUMOR

um projecto para o Walk&Talk Festival.

Quem conta um conto, acrescenta um ponto? Quem fala uma verdade acrescenta uma vontade?

Na retórica, a parrésia é descrita como “franqueza, confiança ou ousadia para falar em público” e está associada a um exercício de compromisso com a verdade. Mas a verdade é construída de várias camadas e texturas, em estruturas fractais cujas dinâmicas se revelam constantes, independentemente do enfoque e a escala a que se exercita essa mesma realidade.

A realidade abarca "tudo o que existe” e inclui “tudo o que é, seja ou não perceptível, acessível ou entendido”. Inclui o que existe fora da mente mas também a realidade que a mente contém. É uma construção, com dinâmicas e equilíbrios próprios. E a interacção entre as partes e os diferentes ambientes criados constitui a sua própria ecologia: a ecologia do real.

A construção de narrativas existe no espaço entre duas ou infinitas realidades, ou seja, no ajuste constante que fazemos entre a imagem e a ideia da verdade. Embora não esteja expressa na realidade tangível extra-mentis, a imaginação existe intra-mentis. E é portanto real, podendo, ou não, ser ilusória. E é nessa fronteira ténue, entre realidade e imaginação, que um rumor existe.

Um rumor é uma obra difusa. Move-se através de símbolos significativos, sejam eles relatos, imagens ou outras formas de comunicação. A explicação desses eventos ou símbolos, circula e baseia-se numa estética infomórfica onde cada bocado de informação pertencente a um objecto, evento ou problema – sempre de interesse público, complementa ou transforma a versão da realidade individual e colectiva.

Sejam materializações propositadas ou simulacros da uma realidade aparente, existem no limiar subtil entre a realidade co-criada e a ficção apercebida. E, neste caso, como em tantos outros, a realidade de uns é uma ficção para outros. (Henry David) Thoreau escreveu que a questão maior não está no objecto do olhar, mas naquilo que o olhar “vê” sugerindo que a descodificação da realidade é feita através de mecanismos de interpretação pessoais sugerindo por outras palavras, as de Paul Virilio, que “por vezes, basta olhar de outra forma para ver melhor”.

Duarte Santo, 2013